terça-feira, 8 de abril de 2008

o Extintor (episódio III)

Na caserna, uns 15 homens dormiam um sono etílico após uma intensa guerra de almofadas que tinha durado horas. Os três mosqueteiros aproximam-se furtivos e entram no dormitório. O silêncio é sepulcral. Em consequência do alcool ingerido o metabolismo dos corpos deixa no ar um cheiro azedo que se mistura com o bafio do ar saturado e com o ocre das meias usadas largadas ao acaso. Ao lado das camas estão os sacos de quem daqui a pouco vai seguir viagem de regresso a casa. Nota-se que os homens recobram forças de uma noite que tinha sido intensa. Mas a serenidade do local era a mesma que se verifica na planície Africana momentos antes da investida dos leões sobre a manada de gazelas. Uma calma de morte denunciava o que estáva para acontecer. E de novo, uma rajada de pó químico inunda o ar, desta vez disparada com a segurança de quem quer semear o pânico, de quem não quer fazer reféns, de quem não quer deixar pedra sobre pedra. Terão sido segundos, mas que pareceram horas, a munição teimava em não acabar e os disparos sucediam-se. A visão do caos branco iluminou a noite. Aos primeiros sinais de protesto, os três rambos fazem uma retirada estratégica voltando a embrenhar-se na selva escura do exterior. Esperam observando as reacções. Ao lado d'eles o extintor jazia exausto e ao fundo surgem esbafuridos os primeiros elementos. Eles ficam e observam da azáfama dos homens que no exterior da caserna sacodem pó dos pijamas. Protegidos pelo breu, os 3 mosqueteiros gozam a sua imunidade. Conscientes de que tinham deixado a sua marca, e que haviam desafiado o sistema e a instituição com galantaria, os 3 bombeiros fumam um ultimo cigarro e resolvem ir refugiar-se numa das enfermarias onde não falta camas lavadas onde fechar os olhos por instantes e aguardar a entrega dos passaportes para a vida civil, logo pela manhã bem cedo. Sentiam-se intocáveis, seguros que nada nem ninguém poderia apontar-lhes o dedo. Ninguém os tinha visto, e mesmo que isso pudesse acontecer o tempo para os acusar seria escasso. E dormiram.
-(continua)-

Sem comentários: