O Influenza

Eu até já vim, só acho que ainda não cheguei. Pelo menos ainda não assentei bem os pés nesta terra mais ao nível do mar. Isto porque trouxe comigo das terras altas um *%#$&! dum vírus que me afanou a carola até hoje e me pôs de cama durante quase 72h de enfiada. Dispensando-vos aos pormenores da sintomatologia que me aflige resolvi escrever-vos estas linhas enquanto limpo o muco nasal ás mangas da minha camisola e mando 3 espirros pró ar. E agora, voces dizem, pois andáste ao frio, é a paga. Pois andei, andei sim senhores e bem frio. Só vos digo que nunca na minha vida tinha visto tanta neve junta. Faz hoje 8 dias (só sei porque foi a noite do FCP x Schalke04) caíu um nevão de bradar e aqui o vosso amigo andou aos rebolões na neve fresca ao lado de uma rapaziada Finlandesa com 13 graus abaixo de zero ...em tronco nu. É bem feita, dirão vocês de novo. Poizé, se é verdade que na Finlândia eles já vêm com livro de instruções à nascença para lidar com o gelo, aqui o zé-tuga não se fez rogado e mandou-se á água em pó como se fosse uma toirada lusitâna. Perdoa-se o mal que fez pelo bem que soube, no fim acabou tudo com a barriga encostada ao balcão, nos shot's, a rir e a rever os instantâneos do momento. Foi uma semana rica em experiências, acordar de manhã abrir as cortinas da janela do quarto e deparar com a rua principal coberta por um manto de 1,5m de neve que tapa completamente os carros estacionados, ou então, aquele final de tarde em que as pistas nem abriram, passada nas piscinas termais do rés-do-chão do hotel. Além de cozer o corpo nas águas tépidas, a piscina tinha uma passagem para uns jacuzzis no exterior. Imaginem aqui o vosso amigo imerso até ao pescoço em água quente a borbulhar e com a cabeça branca da neve que vai caíndo. Impagável. Claro que não resisti e cheguei mesmo a tirar o corpo fora de água por breves instantes só para acenar a uns camaradas que desciam a montanha em frente. É bem feita outra vez. Eu sei, mas gostei na mesma e confesso que mesmo sabendo o que sei hoje, voltaria a repetir os mesmos passos. O que eu gostei mesmo foi do próprio acto de esquiar. Fui prá escolinha ter aulas e aprender a técnica como manda a regra. Ao 2º dia fui promovido na minha classe de iniciados e passei para os "pista azul". Os batidões que foram comigo não acreditavam que eu nunca tinha calçado uns esquis na vida quando ao 2º dia os acompanhei na descida de uma pista de dificuldade média, mesmo com 2 ou 3 trambolhões à mistura. Não me dei por vencido, no fim da descida, sentei-me na telecadeira, voltei a subir, e sozinho, refiz a descida da mesma pista desta vez com uma performance imaculada e zero quedas. Epá, não é pra me gabar mas dei-me bem com aquilo, julgo mesmo que se ficásse por aquelas paragens mais duas ou três semanas, acabaria impreterivelmente por ser convidado para a selecção olimpica de esqui. Agora entendo o entusiasmo de quem me contava histórias da neve e a quem eu sempre respondia com alguma desconfiança, agora entendo-os. Como é fácil ignorar as dores nas rótulas e os gémeos dilacerados e proseguir manhã após manhã a esquiar. Deslizar montanha abaixo é francamente aconselhável. E eu, eu estou mortinho para voltar.