quinta-feira, 6 de março de 2014

As preocupações de Fonseca

Nunca em mais de trinta anos de gestão Pinto da Costa um treinador abandonou o F.C.Porto tão tarde na época desportiva. Em março, a nove jogos do fim. Em toda a sua já longa gestão, o presidente Portista apenas deixou cair cinco treinadores da equipa principal no decorrer de uma temporada. 
Quinito, Ivic, Otávio Machado, Vitor Fernandez e agora Paulo Fonseca (Del Neri e Adriaans abandonaram durante a pré-época). Em nenhum dos casos, a mudança no comando técnico se refletiu na conquista do campeonato nacional. 


Paulo Fonseca despediu-se do Dragão numa já adiada morte lenta que culmina no empate em Guimarães. Foi a gota de água que os adeptos portistas, nada habituados a este nível de prestações, utilizaram para exigir à direção a cabeça do técnico. A SAD Portista bem tentou demover o treinador persuadindo-o a continuar, mas este ter-se-à revelado intransigente. Sucumbiu à pressão.

Paulo Fonseca sai por culpa própria. Falhou em três vertentes decisivas: Resultados, Tática e Liderança. 
Começou por conquistar a Supertaça numa altura embrionária da época a que pouca gente atribui importância e passou os meses seguintes a ver a equipa a ganhar de forma sofrida ou a perder pontos inusitados. A fraca prestação da equipa na Liga dos Campeões, passando pela derrota em Coimbra para a Liga, culmina na primeira derrota em cinco anos de jogos no Dragão para o campeonato, com o Estoril. Pelo meio, a sempre amarga derrota na Luz, de tão fácil que foi para os anfitriões, até acabou por ser justa num palco onde ultimamente o F.C.Porto tinha sido sempre feliz.



Mas para além da frieza dos resultados, é na parte tática que terá residido a principal fraqueza de Paulo Fonseca. Se não se poderia exigir a um jovem treinador acabado de completar uma época vigorosa com o Paços de Ferreira o desempenho de Mourinho ou Vilas Boas, pedia-se sim, que fosse pelo menos tão bom quanto o seu antecessor, e não foi. Desde cedo se percebeu que Paulo Fonseca quis imprimir um cunho pessoal na forma de jogar do F.C.Porto, quis deixar a sua marca. Se a ideia pode parecer legítima, deverá ter desvalorizado que mexer com o ADN de uma estrutura com anos de provas dadas é algo de mais complicado. A forma como Fonseca inverteu o triângulo de meio campo deixando dois homens mais recuados atrás causava estranheza ao grupo e desconforto visível aos intérpretes. Numa primeira abordagem com Lucho sozinho nas costas de Jackson e depois sem grandes apoios nas alas onde tentou inclusivamente adaptar Josué reinventando a estrutura mas teimosamente respeitando a sua visão tática.

As coisas não funcionaram, a máquina emperrava, criavam-se buracos intransponíveis a meio campo e o futebol desenvolvido tornou-se demasiado contido, previsível e sofrido, intranquilizando a equipa. As inacreditáveis e comprometedoras falhas defensivas que se sucederam recebiam do banco meia dúzia de palmas e dois gritos de apoio. Paulo Fonseca foi quase sempre o pai amigo resignado aos erros com esperança cega que tudo se resolveria no futuro... e no dia seguinte dava palestras antes do treino. Dava a ideia de ser pouco disciplinador, muito amigo foi perdendo o pulso. A sucessão de resultados negativos faz abanar a estrutura onde alguns jogadores incapazes de se manterem motivados e concentrados mais que trinta minutos por jogo começa a revelar-se. A equipa cede à sua própria ineficácia e com ela Fonseca perde o grupo e por arrasto os adeptos.

Sem querer alinhar no discurso dos "doutorados" denunciados por Fonseca numa das suas últimas conferências de imprensa, acrescento que a propalada fraca consistência do plantel azul e branco este ano não lhe serve de desculpa. As saídas de James e Moutinho não podem ser assim tão determinantes. Para além das caras novas e pouco titulares: Carlos Eduardo, Ghilas, Reyes, Licá, Herrera, Quintero e Ricardo, todos os outros jogadores do plantel são, pelo menos, campeões nacionais e não podem ter desaprendido de jogar à bola em tão pouco tempo. Paulo Fonseca não cumpriu os mínimos e por isso sai, com consciência de um trabalho feito com honestidade mas sem capacidade para um clube com o nível de exigência do F.C.Porto. Veremos o que o futuro lhe reserva.

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